quinta-feira, 13 de agosto de 2009

III – Compartilhar com Amor

O amor dá forças para você esperar sem desesperar, resistir e enfrentar tudo na vida sem esmorecer, e tem a magia de convencer e comover. Uma pitada de amor em nosso olhar, em nosso sorriso, em nosso trabalho tem a força de transformar o ódio em perdão; a discórdia em união; a dúvida em fé; o desespero em esperança; a tristeza em alegria; as trevas em luz. Enfim, o amor nos leva a aceitar tudo o que não pode ser mudado na vida.

O amor é a poesia dos sentidos, já apregoava o célebre escritor francês Balzac.

Amor é ternura, cuidado e atenção. Amor é dom supremo. Amar é exercer o sentimento supremo. Dentro de quatro letras, convivem o perdão, a bondade, a humildade e a paciência, a perseverança, a compreensão, a compaixão, o não julgamento. Colocar o amor em movimento é o mote deste capítulo. Você acenderá uma luz no coração de muita gente. Inclusive no seu. Assim, pratique-o em pequenas doses. Como as sugeridas abaixo.

Combine com amigos o envio de e-mails positivos e leia-os. Peça-lhes que façam ligações telefônicas.

“Passei quase 45 dias sem poder falar. E era muito bom quando minha mãe lia as mensagens vindas do Brasil via celular ou e-mail. Ou quando somente escutava as vozes de familiares e amigos pelo celular. Melhor ainda quando pude comprar e ter um bom laptop em casa (graças à assessoria de Curt, meu amigo americano, expert em tecnologia) e podia comunicar-me, especialmente através da rede “Amigos da Bia”, um site de relacionamentos criado pelo grande amigo de nossa família, Creso Moraes. Minimizou-nos a solidão e deu-nos o conforto de que estávamos sendo cuidadas, mesmo à distância.” – Bia

Organize com familiares e amigos, visitas, pequenas comemorações, o envio de cartões ou de flores.

“Suzana sugeriu que o jantar semanal que ela promovia na casa dela fosse realizado em nosso apartamento. Era bem no dia da Páscoa. Minha mãe preparou um delicioso cardápio à brasileira, sobremesa de bananada (feita por ela, que fez muito sucesso entre brasileiros e americanos). Embora eu não pudesse comer nada e nem falar, foi muito bom para quebrar a rotina e me alegrar.” – Bia

Confeccione um calendário, com marcador móvel de ímã, para assinalar a proximidade da alta.

Confeccione com Cuidado, uma Árvore da Vida: em muitas tradições, a árvore é usada como uma profunda metáfora da vida. Meditando sobre sua própria árvore, você desenvolverá um forte senso do seu eu interior. Comece traçando suas raízes – quem você é para o lar, a família, amigos e conhecidos. Agora perceba as cicatrizes do tronco: seu processo de crescimento físico, moral e espiritual. Depois, aprecie os frutos: suas conquistas. E continue nutrindo os brotos, pois eles são o seu objetivo, o seu sonho, a cura.

Desenterre álbuns de família. Folheie-os para Cuidado. Escolha uma em que Cuidado está sorrindo e pergunte-lhe o por quê.

Nestes tempos de computador, coloquei todas as fotos da família que ficou no Brasil e as tiradas em Little Rock, em um CD. Assim, ficou fácil recordar tanto os bons quanto os críticos momentos.

Ajude a escrever um diário. Incentive-o. É bom desabafar.

Ajude a compor poesias. Recite. Algo como:

Dance como se ninguém te olhasse/ Cante como se ninguém te ouvisse/ Ame como se jamais tivessem te machucado/ Viva como se o céu fosse aqui na terra.

Cante. Diverti a Bia, cantando uma música de Carlos Galhardo, dos tempos de minha infância, que talvez os mais saudosistas recordem:

Ricardo o felizardo/ Vivia sempre a cantar/ Mas um dia um amor malvado/ Quase fez/ Ricardo chorar.
Canta ou assobia/ mostra tua alegria/ Faça assim como eu/ Canta que o mundo é teu...

Ajude, incentive o Cuidado a pequenas caminhadas. Mesmo pelos corredores do hospital.

Se possível, vá ao jardim, a pequenas compras, a supermercados, feiras ou shoppings. Nesse momento, use e abuse do toque, do abraço, do sorriso. Faça-o perceber a alegre mensagem das flores, a carícia do sol ou da brisa, o riso inocente das crianças ou o apressado andar dos adultos.

Diga sempre uma palavra de incentivo: Como você está bonito, perfumado...

Ninguém faz isto melhor do que você...

Arranje coxins protetores e apoiadores de espuma para o corpo. Algumas vezes, Cuidado perdeu tanto peso, tanta massa muscular, que os ossos o ferem.

Faça origami (dobraduras em papel), pinte, modele, faça crochê, tricô ou borde.

Incentive Cuidado a cooperar em pequenas tarefas caseiras, como tirar o pó dos móveis. E elogie-o sempre. Mesmo que a tarefa resulte inacabada ou mal-feita.

Acompanhe o ritmo da natureza. Chegamos no início de março, quando tudo estava cinzento e seco. Aos poucos, pequenas explosões de verde rebentando no chão e nos troncos das árvores. E depois, flores. Milhares delas, tulipas colorindo de vermelho e rosa os jardins do Saint Vincent Hospital. Daffodils dourados ao longo do campo de golfe vizinho ao nosso apartamento. E pássaros diversos, como os robbins, que anunciam a chegada da primavera, passaram a freqüentar os jardins, com seus cantos e cores. Esquilos saltitavam de árvore em árvore, de teto em teto. Essa mudança progressiva de paisagem significou-nos, durante todo o tempo, que algo especial e bom estava preparado para nós.

Alimentávamos também os esquilos e pássaros do parque com torradinhas de pão de forma. Era uma festa para os olhos e ocupava nosso tempo, tanto o reservado para o preparo do alimento – Bia sempre preocupada se eu tinha pães suficientes para as torradinhas – quanto em nossa fruição de alegria.

Providencie caleidoscópios. São divertidíssimos. Comprei dois para a Bia.

Compre bichinhos de pelúcia. Bia foi presenteada com um coelhinho (dado por Sheila, no dia da Páscoa), um coala (dado por Tom Adam, o gerente da Guest House) e um porquinhotravesseiro, dado por Fayga. E eu, no dia da cirurgia da Bia, sentindo-me muito só no Hospital, comprei um lindo gato malhado de pelúcia, que foi meu interlocutor não somente durante as 14 horas de duração da cirurgia, mas também durante todo o tempo passado em Little Rock. No apartamento, eu era motivo de riso, pois vivia “conversando” com o gato. Todos esses bichinhos viajaram conosco de volta a Curitiba.

Fotografe. Envie as fotos pelo celular ou computador, anexando mensagens. Faz bem para quem emite e para quem as recebe.

Enfeite o ambiente. Pendure balões e bexigas, palhaços e bonecos para as crianças.

Para os adultos, pendurar a foto do time do coração, do artista predileto, do local ou do momento que mais lhe deu alegrias.

Providencie jogos de cama e banho com motivos de bichos ou flores. Bia ganhou do Children’s Hospital uma mantinha estampada de alegres sapinhos e Karin, mulher de Dr. Suen, presenteou-a com outra, pintada de joaninhas e trevos, para dar sorte.

Alugue filmes engraçados ou musicais favoritos para assistir.

Tenha sempre um vaso de flor no ambiente de Cuidado. Bia e eu cuidávamos de vasos com flores, que ao fim de nossa estada foram doados ao motorista da van da Guest House, Rodney, para que fossem plantadas no jardim de sua casa, pois ele era o fornecedor de flores para a sua igreja.

Se possível, faça Cuidado ter um pequeno jardim, com vasos ou canteiros, para que ele possa regar, podar e apreciar o crescimento dos vegetais, sejam eles flores ou temperinhos caseiros, como salsa, cebolinha e manjericão. É terapêutico lidar com a terra.

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