quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SENTIR PARA AJUDAR A CURAR

UMA EXPERIÊNCIA APRECIATIVA

Agradecimentos

Agradecimento essencial
A Deus

Agradecimentos especiais
À minha família
Aos meus amigos
À Izamar Calixto
À Rafaella Calixto
Ao Dr. James Y. Suen
À Dr.ª Lisa Buckmiller

Agradecimento especial de Tereza
Ao escritor e poeta chileno Suryavan Solar, cujo livro Manual para Triunfadores , parte do estoque de leituras levado por Bia para amenizar nossa solidão, inspirou-me a escrever este guia. Guardo a absoluta certeza de que os três grandes aportes de Suryavan: ter êxito é conquistar o mundo externo; triunfar é conquistar-se a si mesmo e vitória é elevar-se como ser humano para poder servir, selaram para sempre, minha entrega ao Universo.

Aos Anjos da Guarda de Little Rock
Ana Buccini • Bill e Jean Hutowski • Curt • Ezequiel • Rev. Dell Farris • Fayga Hoffmann Costa • George • Gilson Koishi • Isabel Andrade • Dr. Julio Hochberg • Margie • Rodnick Hersey • Sidney Karswell • Suzana Menda • Tom Bonner • Tom e Judy Adam • Yasoda e Guruswamy Saravanah

Prefácio

Rodrigo da Rocha Loures

Velho tanque
Uma rã salta
Barulho de água

Quase no final da leitura deste livro, encontrei uma pérola, o haikai do mestre zen Bashô, escrito enquanto ele realizava uma peregrinação rumo a Oku, região inóspita e misteriosa do Japão. Os poemas criados durante essa jornada resultaram em um livro com o instigante título de “Diário de Viagem: Trilha Estreita ao Confim”. Segue-se um trecho em que Tereza, em meditação profunda, nos relata o que está vendo:

Deveria ser um dia quente de verão uma rã ansiosa por aliviar o calor de sua pele, e, ele, meditando, diante de um lago. Subitamente, Bashô é interrompido pelo barulho do salto da rã na água.

Comparo a quietude do lugar, a imobilidade das águas e o forçado “voltar à realidade” do poeta, às pessoas como nós, que perante o surgimento de um fato novo em suas vidas, precisam, de repente, ler o mundo com outros olhos.

... E de repente, através dessa epifania que somente a poesia pode revelar, entendi que toda a experiência que fez gerar esse livro estava totalmente contida neste haikai.

No “velho tanque” de Bashô, a água representa a vida.

O encontro da rã com a superfície da água é aquele evento que começa apenas com um toquezinho, mas vai se expandindo até gerar uma nova realidade que transforma por completo toda a condição do velho tanque.

E finalmente temos a rã e a trajetória de seu salto.

No somatório desses três símbolos do poema – “Velho Tanque”, “Salto da Rã” e “Movimento da Água” – resulta a esperança.

A esperança de mudar, metaforizada pelo salto da rã, as incertezas e os medos, vivenciados no tempo e espaço entre o ponto de partida e o de chegada, passando pela inevitável jornada ao desconhecido numa trajetória no ar, sem a segurança do chão, que pode significar vida ou morte, aventura sem volta.

A partir do salto, a rã se vê em suspensão, perdida do chão e tendo diante de si apenas uma expectativa de onde e quando ela tocará novamente a segurança. É a partida para uma viagem sem garantias, mas com a renovação da esperança.

Foi assim, confrontando Vida e Morte; Medo e Coragem; Enfermidade e Cura, e assumindo a escolha pelo salto, que Bia e Tereza partiram numa jornada de fé.

A Esperança

Desde o seu nascimento, há 25 anos, a Bia e sua família vinham peregrinando em busca de cura para uma doença congênita. Médicos, consultas, exames, salas não só de espera, mas também de encontros e desencontros entre pacientes, esperanças, frustrações. Muitos anos...!

Mas..., um dia, assim como no “velho tanque”, algo novo aconteceu e começou a mexer com a água. Tereza e Bia foram a um hospital em São Paulo para entregar presentes de Natal para médicos e pessoas queridas. Ali, no corredor, inesperadamente, encontram-se com Izamar e Rafaela, mãe e filha, que visitavam o local com a mesma intenção. As duas eram velhas conhecidas de “antigas” salas de espera e Rafaela, portadora da mesma enfermidade, encontrava-se totalmente curada.

Izamar e Rafaela contaram que há meses procuravam reencontrar Tereza e a filha, a fim de que também Bia pudesse contactar a equipe médica norte-americana com a qual Rafaela havia se tratado. Da mesma forma com que a “rã” surpreende a superfície plácida da água, agitando-a numa novidade de movimentos, com efeitos que se irradiam e se expandem de forma incalculável e imprevisível, uma nova esperança de cura brotou nos corações de Bia e Tereza.

O Olhar Apreciativo

“O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará em trevas.” (Mt 6, 22-23)

Este olhar bíblico certamente freqüentou os dias de Bia e Teresa, e é confirmado no depoimento abaixo:

..no dia 10 de março, primeiras horas póscirurgia da Bia, preocupada e insone, fotografei este amanhecer. Este sol, nascendo em meio à escuridão da madrugada, que vai definindo pouco a pouco os edifícios, as árvores, os carros e as pessoas, traduziu-me a fé e todas as esperanças de cura que depositava em deus e no conhecimento do Dr. Suen e equipe. Significou-me toda a luz que iluminaria os caminhos futuros de Bia. E assim, imaginei-a toda envolta em luz, pronta para brilhar em todo o seu esplendor de filha de Deus”.

Tereza deixa-nos muito claro qual foi a escolha de olhar que adotou.

Mas a Bíblia também nos diz que a Fé sem obras é morta. Portanto a Tereza (Cuidador) arregaçou as mangas e pôs suas mãos a trabalhar, chefiadas pelo coração, presenteando não só sua filha, mas todos com quem se relaciona, incluindo a nós leitores deste seu manual e testemunho, com seu amor. Mas sabemos que além da atitude certa convém desenvolver também o método certo.

A Investigação Apreciativa

Tereza atribui o sucesso da sua jornada à capacitação por ela recebida em Investigação Apreciativa. Esta metodologia (ref1 e ref2) de aprendizagem e desenvolvimento pessoal e organizacional criada por David Cooperrider tem tido invariável sucesso onde quer que seja aplicada apropriadamente. Eu mesmo sou testemunha de sua efetividade, seja por experiência pessoal, seja pela da sua aplicação na Nutrimental, empresa da qual participo, e em inúmeros programas da FIEP.

Tradicionalmente, muitas pessoas, assim como suas organizações, se consideram um problema a ser resolvido, e o método de trabalho adotado passa pela elaboração de uma lista de problemas. Procuram-se suas causas e parte-se para a elaboração e implementação de soluções. A referência principal desse tipo de planejamento é o passado.

Existe uma grande diferença entre este método e a Investigação Apreciativa. Nesta, o foco não é o problema, mas a construção de um futuro desejado com base no que se tem de fortalezas. A pessoa ou organização deixa de ser percebida como um problema a ser solucionado, para ser vista como a própria solução, como um potencial, um mistério a ser descoberto e desenvolvido.

Um aspecto que diferencia a Investigação Apreciativa das outras metodologias de desenvolvimento de pessoas é que as imagens de futuro emergem de exemplos positivos ocorridos no passado. Estas imagens se tornam possíveis porque estão baseadas em momentos extraordinários da vida pessoal ou organizacional. A sua referência principal de planejamento é o futuro que se quer construir.

O seu instrumento básico de trabalho é o protocolo de entrevista apreciativa. Uma peça-chave cuidadosamente elaborada para orientar todo o esforço de aprendizagem e mudança. O engenhoso e criativo livro-manual da Tereza e Bia tem as propriedades de um roteiro de pesquisa apreciativa auto-aplicável, voltado ao resgate das potencialidades humanas tendo por mote a ética do cuidado.

Com este elevado propósito, Tereza e Bia partilham com o leitor sugestões de atitudes que podem tornar o dia-a-dia de Cuidador e Cuidado mais positivo e enriquecedor. Mas o que vamos aprendendo mesmo, à medida que viramos as páginas, não é primordialmente o que o manual sugere de concreto, mas o exercício de sensibilidade do qual nosso espírito vai se embebendo.

Esta sensibilidade é que passa a ser o eficaz instrumento para a mudança, como se aos poucos, despertados para os sentimentos que nos causa tudo o que está a nossa volta, fôssemos acordando de uma anestesia e, saindo desta imobilidade, gerássemos em nós os movimentos da cura. E mais uma vez recordo que, se nosso “Olhar for são (amoroso), todo o nosso corpo será iluminado e são”.

Então Tereza começou a palmilhar um caminho que era ficar de coração aberto para toda a experiência que fosse sensibilizar a ela e aos que estavam a sua volta; de tudo que fosse expressão de amor. É como se seus olhos “espirituais”, e também os “carnais”, escolhessem agora só perceber o que fosse Amor, e, assim, a partir deste livro, as duas vão nos iluminando e mostrando, como que com uma lanterninha, como praticar Cristo em suas vidas

“Dá Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesmo, e ao fazê-lo, usa as tuas mãos.” (Madre Tereza de Calcutá)

Tereza e Bia transformaram a energia estática (potencial) que é o sentimento de amor puro e gratuito, em energia cinética. Ou seja, “ações práticas de amor”. O que elas se propõem aqui é ilustrar como no dia-a-dia, passo a passo, a partir de uma atitude amorosa, uma atitude apreciativa, “olhos bons”, elas se tornaram sensíveis às práticas de amor que atuaram positivamente nas moléculas de seus corpos, como explica a física quântica, e a cura pouco a pouco encontrou o seu espaço.

Olhando para a Bia (Cuidado), contemplamos sua cura física e temos a certeza de que – no nível da alma e do espírito – curas também ocorreram em Tereza (Cuidador). Provavelmente, em graus variados, em todos aqueles que, sendo da equipe médica ou do grupo de amigos de convívio em Litle Rock, estiveram muito próximos a elas no decorrer de todo este processo.

Portanto, as moléculas tomadas da energia cinética da cura ativam por conseqüência as suas vizinhas e o benefício de umas é também o benefício de outras. Assim de que outro modo poderíamos entender que Tereza de Calcutá tocasse os considerados intocáveis, carregados de tantas enfermidades, testemunhando e trabalhando com tanto sofrimento e, ao mesmo, tempo estivesse tão saudável, a ponto de ter ainda mais e mais a dar?!

Ética do Cuidado

Cuidar é a base da natureza humana. É uma relação de afeto com a realidade. Para isso devemos nos valer simultaneamente da nossa razão, nossos sentidos, percepções e relações. Daniel Goleman, no seu livro Inteligência Emocional, citando estudos avançados sobre os movimentos dos neurônios no cérebro humano, mostra que a primeira reação é o afeto. Só alguns instantes depois, entra em funcionamento o raciocínio.

Ou seja, sentimos a realidade antes de pensar sobre ela. Acreditamos que este dispositivo internoé parte de uma lógica divina de autoproteção, que apela à necessidade de cuidarmos uns dos outros e, em última análise, garantir a sobrevivência da vida no planeta.

Este livro-manual, sábia e amorosamente elaborado por Tereza e Bia, é um exemplo vivo destes pressupostos e sugere que a Ética do Cuidado é o caminho de cura das pessoas e também do planeta. A pungente história de vida das autoras demonstra o extraordinário poder dos nossos sentidos quando apropriadamente apoiados por relações de solidariedade amorosa em conexão com nossa dimensão divina. Sua porção espiritual proporciona inspiração e força, enquanto sua porção técnica oferece um método.

Estamos a um passo da destruição da nossa biosfera. O mundo atual está enfermo e pede para ser dirigido por um novo conjunto de expectativas – migrarmos de um sistema baseado no EGO para um sistema baseado no ECO. Tudo aponta para a necessidade urgente de cuidado. O desenvolvimento de uma nova atitude e conhecimentos práticos se tornam imprescindíveis para a cura das partes (pessoas-comunidades) e o todo (humanidadenatureza). Estamos diante de uma oportunidade ímpar de mobilização em prol da construção de uma Nova Cultura, a da Ética do Cuidado.

Muito se fala da ética, mas estas palavras e conceitos se tornam áridos e ocos se não contemplarem o aprofundmento prático do cuidado e do sustento nela implícitos – suas dimensões espiritual e social. A Ética do Cuidado se dá mediante a da ação correta. Este livro-manual é a contribuição das autoras a todos que se sintam também chamados a ingressar nesta jornada.

Este é o apelo implícito no instigante trecho do I CHING citado na conclusão deste livro. Esta fonte de sabedoria milenar sugere que, na medida em que a prática do cuidado for se disseminando, estará em curso a construção de uma nova cultura. Uma transformação nos comportamentos em comunidade. Uma natural transformação do mundo. Porque quando fazemos algo bom, automaticamente nos inserimos na cadeia energética desse gesto e passamos a ter uma parcela de responsabilidade no processo, até o final. Há um crescente número de indivíduos sensibilizados pela Ética do Cuidado, mas o grande desafio é construir uma humanidade pautada pela ética do cuidado.

Este livro faz a sua parte. Nos mostra basicamente como por meio das relações positivas (Apreciativas), caminhar na vida com o olho bom, fazer o bem, nos conduz ao encontro da cura que vem do amor. A Tereza e a Bia, na relação mãe e filha, encontraram em suas próprias referências exercícios e práticas cotidianas e minuciosas de amorosidade em tudo que olhavam ou faziam. Assim, seus dias estavam, em todos os momentos, iluminados e curados com o olhar do amor. Efeitos benéficos que se estendem até agora, como a materialização deste livro, cujas sugestões, se praticadas com o espírito da fé, do amor e da caridade, encontrarão justificativa em Lucas 6:38 “dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também”.

Tereza e a Bia escolheram a melhor parte, a de praticar o amor.

Apresentação

Este pequeno livro relata uma experiência ímpar, vivida em 2007 por mim e por minha filha Beatriz, a Bia, em Little Rock, Estado de Arkansas, nos Estados Unidos. Era necessário que Bia se submetesse a uma cirurgia para corrigir uma malformação venosa congênita, procedimento impossível de ser executado no Brasil. Lá, ficamos no Arkansas Children’s Hospital, onde tivemos oportunidade de verificar como funcionam as redes de Cuidadores e também experienciar meios para nos fortalecer e driblar a solidão, a tristeza, o medo e a incerteza.

Juntas, resolvemos colocar no papel toda essa vivência, e, para grande surpresa, verificamos que tudo se resumiu na união do que há de melhor nas energias e sentimentos de todas as pessoas envolvidas: de familiares e amigos; de médicos e enfermeiros; de colegas de trabalho, de grupos de orações e de festas, de brasileiros residentes em Little Rock e de seus amigos americanos.

Particularmente, senti que minha certificação, pela Case Western Reserve University, na metodologia da Appreciative Inquiry (ou investigaçãoapreciativa), desenvolvida pelo norte-americano David Cooperrider, que procura extrair a excelência das pessoas em várias situações de vida, contribuiu de maneira prodigiosa na recuperação da Bia e na minha fortaleza como Cuidadora.

Devo esclarecer que a consciência desse fato somente emergiu após o nosso retorno ao Brasil, quase cinco meses depois, quando todas as sugestões curadoras já haviam sido anotadas. Creio que, de algum modo, assimilei a metodologia e a apliquei inconscientemente, adaptando-a à situação em que estávamos envolvidas.

E deixou-nos claramente evidenciado que crenças afirmativas de qualquer espécie, trazidas pela resposta da Pesquisa Apreciativa, resgatam padrões de ativação de células nervosas no cérebro associados ao bem-estar físico e mental.

Avalio agora, também, que Deus nos colocou nessa experiência para que pudéssemos transmitir, em linguagem simples e direta, a tantas outras pessoas que estão sendo provadas como Cuidadoras, que é possível ajudar a curar quem está sob nossos cuidados, e ao mesmo tempo, preservar a saúde física, mental e espiritual do Cuidador.

Assim que você se dispuser a colocar em prática nossas sugestões, gostaríamos que se considerasse acompanhado por nós: você, sentado, com o livro aberto, atento. Nós, ao seu lado, amparandoo, abrindo-lhe a alma e a mente para conhecer as vivências do outro, e compartilhar dessa maravilhosa experiência que é a troca de emoções. Emoções que são poderosas, porque particulares e únicas para cada um de nós. E que vale a pena conhecer.

A quem se destina

Nosso maior desejo é que este livro seja fonte de inspiração para:

Profissionais da saúde,
Cuidadores, sejam eles familiares,
amigos ou voluntários,
Conselheiros espirituais,
Pais,
Professores.
Todos aqueles chamados a nutrir
com o melhor de seu Amor
o seu semelhante,
doente de corpo,
doente de espírito,
ou doente de alma.

E muito especialmente a uma boa parcela da população brasileira que deverá estar preparada para cuidar, até 2025, do 6º maior contingente de idosos no mundo, ou seja, 23 milhões de pessoas acima de 75 anos. Segundo o IBGE, todo ano se incorporam à população brasileira 650.000 idosos. Este número causará forte impacto principalmente no setor da saúde. As patologias crônico-degenerativas, como acidentes cérebro-vasculares, isquemias do coração, neoplasias, diabetes, mal de Alzheimer, demências e imobilidade parcial ou total, vão demandar um aparato cada vez maior, mais complexo e qualificado de hospitais, equipamentos e corpo médico. Esses fatores, agravados ou causados pela solidão (determinada pelo padrão de famílias menores, com marido e mulher trabalhando fora, portanto, sem tempo para cuidar deles) e baixo nível socioeconômico da maioria dos idosos, irão exigir de toda a sociedade atitudes de cooperação e muita compaixão pelo semelhante que está doente.

Apesar de ser um quadro preocupante, o país tem de se preparar para enfrentar tal desafio. Este manual pretende ser um apoio para motivar e apoiar os Cuidadores desta futura população de idosos.

O que pretende

I – Informar com humildade
II – Sugerir com respeito
III – Compartilhar com o coração.

I – Informar com humildade

Entender para poder cuidar

Cuidador ou caregiver nos Estados Unidos é o termo usado para a pessoa que zela pela saúde dos pacientes em hospitais, casas de repouso para idosos e pessoas acometidas por doenças como mal de Alzheimer, câncer ou distúrbios mentais. Trata-se de uma vasta rede, com endereços físicos e virtuais, revistas e jornais próprios, lojas fornecedoras de roupas especiais, móveis ergonomicamente construídos e diversas outras facilidades.

Cuidar procede do latim curare, e quer dizer curar, proteger, ser protetor. Cura, em inglês heal, vem de wholeness, que designa o todo, a completude corporal e espiritual. Em português, a palavra enfermeiro vem do latim infirmare – o que não se firma nas pernas (como as crianças, os doentes e os idosos) e em inglês, nurse, deriva do verbo nurse, que quer dizer nutrir.

Cuidado designa, pois, uma atenção, um zelo, um desvelo para a experiência do adoecimento – físico, mental ou espiritual – e envolve naturalmente as práticas de promoção, proteção ou recuperação da saúde. O cuidado acompanha o ser humano desde o seu nascimento até a morte. Basta atentar para os vários cuidados ao longo da vida do homem: cuidado no pré-natal, no nascimento; cuidado ao educar as crianças e os adolescentes; cuidado em não expor as populações a situações de risco; cuidado para não contaminar as águas, os rios e o ar, nem poluir o meio ambiente; cuidado para conservar uma relíquia de família. Cuidado envolve o homem em si, em relação aos seus semelhantes, ao meio ambiente e à sua espiritualidade.

Quando se planta cuidado colhe-se gratidão.

Como nasceu o Cuidado

Para ilustrar a importância do Cuidado, vamos nos valer de uma narrativa muito antiga, de origem grega, reelaborada por Higino, que morreu no ano 10 de nossa era. Higino, homem de múltiplos interesses intelectuais, adaptou-a aos termos da cultura romana, e nós a trazemos para você, pelo sentir de Leonardo Boff, em magnífica tradução livre da versão latina de Higino.

“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.
Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.
De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando esta criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”

Qual é a conclusão desta narrativa?

Que o cuidado delegado a Cuidado tornou-se a verdadeira e eterna essência do ser humano. Que cada pessoa é digna de ser amada e respeitada, porque primeiro foi amada por Deus, e esse amor deve ser estendido ao longo de sua vida. Cuidado que se traduz como preocupação, estima e senso de responsabilidade pela pessoa amada ou por um objeto.

Cuidar do corpo de alguém é prestar atenção ao sopro que o anima, resumia um mestre do espírito.

Cuidado tem, na verdade, quatro letras de intensidade divina: Amor.

Sentadas ao seu lado

Bia e eu somos testemunhas de que a cura depende essencialmente de uma disposição física, mental e espiritual baseada em redes de sensibilidade. Os sentidos da visão, audição, olfato, tato e paladar, isoladamente ou associados entre si, são generosa fonte de nutrição para o físico e para a mente. Associados a boas reminiscências, a pensamentos positivos e promessas de um futuro melhor, são uma dádiva para o coração. A espiritualidade foi a incrível força que nos sustentou em momentos inspiradores de fé, confiança e alegria. O título Sentir para ajudar a curar define o propósito de nosso “sentar ao seu lado”.

Sentir é um verbo exigente. Ele pede paciência, tolerância, dedicação incondicional ao próximo, aceitação, desprendimento, humildade e sabedoria para poder decidir por si e pelo outro.” – Bia

Sentir, na acepção de acolher o outro, é escutar suas inquietações, seus temores, seus sofrimentos e se dispor a participar de seu destino, de seus sonhos e de suas buscas. Aqui, evoco a simpatia e a solicitude do Dr. James Suen, que, sabendo de nossa solidão e de nossas incertezas, diariamente vinha visitar-nos, perguntar se estávamos bem, se estávamos nos alimentando adequadamente, e nos trazia filmes e DVDs de musicais para nos distrairmos. Conversava sobre os mais diversos assuntos, ouvia as observações da Bia e exigia-lhe, de modo calmo, participação nas respostas. Cauteloso quanto à prescrição dos medicamentos e tratamentos, orientava-me com paciência, falava-me pausadamente para que eu entendesse bem as recomendações. E quando foi possível, levou-nos a conhecer sua família e belos recantos de Little Rock. Dr. Suenshine (‘raios de sol’, trocadilho que minha filha criou com o nome do Dr. Suen), não somente cuidou de nós, mas se preocupou conosco. De voz suave e pausada, Dr. Suen, instila esperança e confiança através de palavras bem cuidadas e envolve seus pacientes num manto de interesse e compaixão. É, na verdade, um médico de corpo, mente e espírito.

Sentir para ajudar a curar: Cura, que em latim arcaico se escrevia coera, referia-se a um contexto de relações de amor e amizade, no qual um sai de si e centra-se no outro, com desvelo e solicitude.

O físico Amit Goswamit, autor do livro O Médico Quântico, ainda acrescenta que, para conduzir processos de cura integral, isto é, corpo, mente e espírito, é necessário adotar um novo procedimento na área médica: integrar os métodos da medicina convencional (fármacos, cirurgias e tecnologias) à medicina alternativa como a homeopatia, acupuntura, meditação e yoga.

Por outro lado, a moderna medicina alternativa vem resgatando uma das grandes tradições terapêuticas que pregava que a cura é um processo global, envolvendo a totalidade do ser humano e não apenas a parte enferma. Uma tradição ocidental que remonta aos tempos de Asclépio (ca. 2000 a.C.), cuja vertente nos deu o pai da medicina clássica e moderna, Hipócrates (460-377 a.C.).

Asclépio, por exemplo, mantinha em sua clínica de recuperação, em Epidauro, na Grécia, atividades ligadas à dança, música, ginástica, poesia, ritos e sono sagrado.

Havia o Abaton, santuário onde os enfermos podiam dormir para terem sonhos de comunhão com a divindade, que os tocava e os curava. O Odeon, lugar onde se podia desfrutar de música tranqüilizadora e também produzir e recitar poemas de enlevo. O Ginásio, onde terapeutas orientavam e ajudavam a fazer exercícios integradores da mente/corpo. O Estádio, para esportes de competição controlada, para melhorar o tônus corporal. A Biblioteca, reservada para a consulta de livros, admiração de obras de arte e a promoção de discussões sobre os mais variados assuntos.

Bia e eu somos testemunhas de que a cura é resultado do casamento entre razão – eu penso, eu conheço a reputação do meu médico, os remédios que ele me receita, o conhecimento e a tecnologia que ele domina – e a sensibilidade: Sentir para ajudar a curar – eu sinto, eu confio, eu desejo ser curado, somados às crenças e expectativas de quem interage com o paciente. É uma relação de estima, afeição e simpatia mútua existente entre o paciente, aquele que cura, aquele que cuida e os que compõem a rede de sensibilidades.

E para comprovar que a idéia acima é defendida há muito tempo, invocamos as palavras da Biblia:

“Honre os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado por Deus. O Senhor deu aos homens a ciência para que pudessem glorificá-lo por causa das maravilhas dele. Com elas, o médico cura e elimina a dor, e o farmacêutico prepara as fórmulas. Meu filho, se você ficar doente, não se descuide. Suplique ao Senhor, e ele o curará. Não se afaste tampouco do medico, porque você precisa dele. Há casos em que a cura só depende dele. Ele também suplica ao Senhor, a fim de que lhe conceda aliviar a doença e curar seus pacientes”. (Ecl.38,1:14)

Cuidador será, pois, nossa maneira de nomear quem cuida de gente que, por uma razão ou outra, depende de ser Cuidado. Cuidador terá de ter sempre presente que ele é corpo, pessoa e afetividade que vai interagir com outro corpo, pessoa e afetividade, o Cuidado, o ser fragilizado pela doença.

Corpo, essa estrutura de músculos, sangue, nervos e ossos que é a nossa maneira de ser, de habitar e de abraçar o mundo. Um corpo que carrega sonhos, desejos, paixões contraditórias, culpas, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, saúde e sofrimento, cicatrizes de pele e de alma. Isto somos nós: ser humano-corpo-mente-espírito.

E anotar que Cuidado, sendo outra pessoa, precisa ser respeitado em sua dignidade. Dignidade que pode evocar lucidez, coragem, aceitação da realidade, ausência de mesquinhez, pudor, discrição, vontade de não fazer pesar sobre o outro o seu infortúnio. Ou que também pode ser tudo isso às avessas, de maneira inconsciente.

Sentir é sinônimo de Cuidador Amoroso.

Você já é um Cuidador Amoroso

Você, que está aí, sentado na sala de espera de um hospital, ansioso por notícias, tenso porque qualquer cirurgia envolve riscos. Milhões de pensamentos girando a 1.000 por hora. Olho no relógio a cada instante. Ansioso por notícias. Angustiado e olhando para a porta pela qual sairá o médico-chefe operador para lhe comunicar o êxito/não-êxito da cirurgia. Você já é um Cuidador. Veja por que:
  1. Você perambulou por vários centros médicos.
  2. Ouviu os diagnósticos mais diversos; alguns animadores, outros nem tanto. Ou, pior ainda, controversos.
  3. Pesquisou na Internet para saber o máximo sobre a doença: causas, conseqüências em curto, médio e longo prazo; possíveis meios de cura. Ou as possíveis alternativas para garantir uma sobrevida, à espera de algum milagre espiritual ou da ciência.
  4. Reuniu todos os exames num CD e os enviou aos maiores centros especializados do mundo, à espera de um diagnóstico alentador.
  5. Fez amizade com vários portadores da mesma doença, pois freqüenta quase os mesmos centros médicos. Se não o fez, saia logo de sua conchae comece a fazê-lo. É bom ouvir as experiências deles – sejam de fracassos ou conquistas – não só para conhecer alternativas de tratamento, mas também para tecer um rede de solidariedade e de comunicação, que pode ser valiosa.
  6. Cuidou que todos os membros da família se sentissem incluídos, cada um deles encarregado de uma tarefa, por mínima que seja.
  7. Pediu apoio moral e espiritual (rede de orações e pensamentos positivos) para você e o Cuidado, seus familiares, amigos e colegas.
Julgamos que quem passou por todas essas fases já é um Cuidador Amoroso, porque essas provas envolveram sabedoria para aceitar a realidade, acumular experiências e força para superar limites emocionais e físicos até então inimagináveis. E já se tornou um Cuidador Amoroso, porque permitiu refletir-se na dor do outro, tornar-se um ser tocante e senciente para acolher a um outro, ansioso por ser amado, tocado e sentido.

Milagres acontecem

Bia e eu achamos por bem contar a você, Cuidador, um pouco de nossa história. Até para justificar o porquê de nosso anseio em ajudá-lo a sentir para ajudar a curar.

Há quase vinte e cinco anos, vivíamos em busca de cura para um problema congênito, que se apresentou quando do nascimento de Bia. Diagnosticado a princípio como hemangioma, assim foi tratado até dezembro de 2006, quando Deus nos colocou no caminho Rafaela Calixto e sua mãe Izamar.

Nós nos conhecíamos há muito tempo, pois freqüentávamos os mesmos médicos e hospitais de São Paulo. E mantivemos uma relação de amizade e de troca de informações por muito tempo. Até que, por uma série de mudanças de endereços, nos perdemos. E nos reencontramos, às vésperas do Natal de 2006, em São Paulo, sem marcarmos nenhum encontro, em um dos andares do imenso complexo do Hospital AC Camargo, antigo Hospital do Câncer, na Vergueiro. E, pasmem, não deveríamos estar lá, pois nenhuma de nós havia efetivamente marcado alguma consulta com seus respectivos médicos, a não ser para entregar presentes de Natal.

Passada a surpresa inicial, elas nos relataram que estavam à nossa procura desde que chegaram dos Estados Unidos, havia quatro meses. Estavam retornando de uma estada de três anos, marcados por várias cirurgias sob as abençoadas mãos do Dr. James Suen, e com Rafaela inteiramente curada. E elas desejavam ardentemente o mesmo para Bia. Na mesma noite, Rafinha, em seu apartamento na Hadock Lobo, tirou fotos dos mais variados ângulos de minha filha, colocou-as no e-mail de Dr. Suen e telefonou-lhe para dizer que “finalmente haviam encontrado a garota de Curitiba”.

A partir desse instante, Dr. Suen solicitou todos os exames possíveis da Bia – desde os três meses de idade até àquela data – e nos acenou com uma esperança. E também com uma pergunta: aceitaríamos ser um case do Discovery Channel Health? Trata-se de uma série da TV americana, lançada recentemente com êxito, que documenta casos extremamente difíceis na Medicina. Era 12 de janeiro de 2007. A partir daí, os acontecimentos sesucederam numa velocidade vertiginosa: a equipe do Discovery, tendo à frente o produtor Brent Henderson e sua equipe composta por Brian Sewell e Ivan Capeller chegando para filmar Bia, familiares e amigos; preparativos para a viagem – que não foram poucos – e que se tornaram menos estressantes porque contamos com a ajuda de um exército de amigos; chegada em Little Rock no dia 1.º de março, após 16 horas de viagem, e cirurgia marcada para o dia 9 de março.

Asseguramos que milagres acontecem. E desejamos muito, do fundo do coração, que você também tenha um encontro marcado com eles.

Um amanhecer para não esquecer jamais

E assim, no dia 10 de março, primeiras horas pós-cirurgia da Bia, preocupada e insone, fotografei este amanhecer. Este sol, nascendo em meio à escuridão da madrugada, que vai definindo pouco a pouco os edifícios, as árvores, os carros e as pessoas, traduziu-me toda a fé e todas as esperanças de cura que depositava em Deus e no conhecimento do Dr. Suen e equipe. Significou-me toda luz que iluminaria os caminhos futuros de Bia. E assim, imaginei-a, toda envolta em luz, pronta para brilhar em todo o seu esplendor de filha de Deus.

Que este sol também o inspire, Cuidador. E o inunde de luz e de amor para poder amparar Cuidado na sua batalha pessoal pela cura.

Começando pelo riso

A Ciência definitivamente já comprovou o grande poder de cura pelo riso. Estudos conduzidos no Japão e em Loma Linda, na Califórnia, chegaram à conclusão de que doentes expostos ao riso tiveram aumentados os níveis de imunoglobulina e de células sadias.

Explica-se: coração e pulmões são estimulados. O coração bate mais rápido e a pressão arterial se eleva temporariamente. Você respira mais profundamente e oxigena maior volume de sangue. Seu corpo libera endorfinas, seu natural matador de dores, e você produz mais imuno-células. Você queima 78 calorias a mais do que se estivesse em estado de repouso. Seu diafragma, músculos faciais e todos os órgãos internos são chamados a praticar uma espécie de ginástica sem sair do lugar.

Depois que você riu, seus músculos e artérias relaxam. Isto é magnífico para diminuir a dor. Também, sua pressão sangüínea baixa e seu pulso cai abaixo do normal por alguns momentos. Alguns pesquisadores afirmam que tudo isto também auxilia a digestão.

O caso do ex-editor do Saturday Review, Norman Cousins, que escreveu sobre sua autocura de uma doença degenerativa conhecida como espondilite ancilosante (inflamação de uma ou mais vértebras, tendente a imobilizar as articulações afetadas) é altamente esclarecedora. Suas chances de recuperação, segundo os médicos, eram de uma para quinhentas. Ele avisou seus médicos que iria parar de tomar os remédios e passou a assistir a todos os filmes divertidos que constavam dos catálogos e a ler os cômicos de sua preferência. Para grande espanto dos médicos, recuperou a saúde e voltou às suas atividades anteriores.

No dia da primeira cirurgia, eu carregava um pequeno livro de excertos bíblicos, e abri por acaso, uma página com o texto: “Um coração alegre dá boa cura; mas um espírito alquebrado, seca até os ossos.” (Prov. 17:22).

Mais tarde, em uma das revistas da Fundação dos Amigos do Arkansas Children’s Hospital, li e anotei: A merry heart makes a cheerful countenance, but low spirits sap a man’s strength”, que livremente traduzi: Um coração alegre faz um semblante feliz, mas um triste, consome as forças de um homem.

E segundo depoimento da Bia, ela nunca me viu de mau humor. Poderia dizer que a Vida me deu um limão e eu fiz dele uma limonada. Prefiro, porém, citar um provérbio chinês:

Você não pode impedir que os pássaros da tristeza voem sobre a sua cabeça, mas, pode, sim, impedir que façam um ninho em seu cabelo.

... e pela sessão "cócegas na alma"

  • Comece relatando fatos engraçados que aconteceram com você. Como aquele em que Isabel, uma brasileira, que foi um de nossos anjos da guarda, contou para nós, no quarto de hospital onde convalescia a Bia.

Recém-chegada a Little Rock, sabia pouquíssimo inglês e vivia à época com a família da irmã. Um dia, bateu à porta um homem, advertindo sua irmã que tivessem cuidado, ela e as crianças, pois havia uma cobra rondando as casas. Ele a mataria por vinte dólares. No dia seguinte, ele voltou e disse que a cobra tinha aproximadamente quatro pés. Daí, Isabel, que tinha uma desconfiança quanto ao homem, disse em português à irmã: Vê, esse homem está de malandragem com você. Onde já se viu cobra com pés, ainda mais com quatro! Risos. Eram four feet, quatro pés, a medida americana de comprimento.

  • Conte piadas. Rir faz cócegas no coração, diziam meus filhos. Eu acrescento: rir faz cócegas na alma, rejuvenesce, causa menos rugas no rosto e no coração.

Faça Cuidado contar suas melhores histórias.

Uma boa dica é dramatizar páginas do Rir é o Melhor Remédio, Flagrantes da Vida Real e Piadas de Caserna, da revista Seleções do Reader’s Digest.

E uma boa piada para arrematar:

Uma mulher vê um senhor idoso na varanda da casa, numa cadeira de balanço, e vai falar com ele:
- Não pude deixar de notar o quanto o senhor parece alegre. Qual o seu segredo, para uma vida longa e feliz?
- Fumo três maços de cigarros por dia – disse ele. Também bebo uma caixa de uísque por semana, só me alimento de fast-food e nunca faço exercícios!
- Incrível, qual a tua idade?
- Vinte e seis.

Lembranças positivas elevam a auto-estima

A memória é a residência da alma, já apregoava Santo Agostinho. Recordar é viver, diz o adágio popular.

Faça o jogo de lembrar. Incentive o Cuidado a participar de jogos de memória, que envolvem todos os sentidos, do corpo e da alma. Incentive-o a dar-lhes títulos. Se for possível, pergunte-lhe o porquê da resposta. Boas lembranças resgatam a auto-estima e são um bálsamo para a alma. Fazem recordar momentos alegres, significativos, cheios de força e prazer, inesquecíveis, não tanto pelo tempo que duraram, mas pela intensidade com que aconteceram.

Melhor ainda, se você, Cuidador, puder enriquecer este jogo com suas vivências. Verá que a troca é muito gratificante.

Pronto?
Escolha então o jogo de lembrar:
  • Os 2 momentos mais felizes de sua vida.
  • Os 2 momentos mais felizes ou travessos de sua infância.
  • Os 2 momentos mais marcantes de sua juventude.
  • O melhor momento de sua vida nos últimos 5 anos.
  • Os 2 melhores momentos de sua vida profissional.
  • Os 2 momentos mais engraçados de sua vida.
  • As 3 datas mais importantes de sua vida.
  • As 5 pessoas que mais marcaram sua vida.
  • As 2 cidades que ainda gostaria de visitar.
  • Os 2 livros que mais lhe agradaram.
  • Os 2 melhores filmes, peças teatrais, concertos ou sessões de dança que já viu.
  • As 2 músicas que mais lhe trazem lembranças alegres.
  • As cinco melhores piadas que já escutou.

A carícia essencial

O tato, a carícia essencial, freqüentou nossos dias em Little Rock.

“Recordo-me, mesmo sob efeito da morfina, das massagens que minha mãe me fazia nas mãos, nos braços, nos pés e pernas para evitar embolias; do aroma do óleo de lavanda com que perfumava meu corpo durante os dias de leito no hospital, pois fiquei 15 dias sem poder tomar um banho de verdade; do constante “limpar rosto e olhos” com um paninho macio; do toque mão na mão, dos penteados, do corte das unhas, dos banhos de imersão preparados com essências florais, logo que pude desfrutar deles. E da delicia de sentir na pele um creme perfumado e refrescante. Do calor e ternura do abraço e do beijo de boa noite. Todos esses momentos foram muito importantes no meu processo de recuperação”. – Bia

Nas minhas pesquisas para encontrar respostas a por que o toque, o tato, a carícia são essenciais para o processo de cura, descobri que eles exercem um papel fundamental em nossas vidas. De fato, estudos médicos revelaram atraso no desenvolvimento psicológico e físico das crianças privadas do contato físico, mesmo que estivessem bem alimentadas e cuidadas. Também comprovam que bebês prematuros, massageados, ganham 50 por cento de peso mais rápido dos que não o são, choram menos, possuem temperamento melhor, são menos irritáveis, dormem melhor e apresentam menos apnéias.

E mesmo depois, adultos, ainda somos tão carentes da carícia essencial, que procuramos inconscientemente profissionais do toque – médicos, cabeleireiros, massagistas, professores de dança, cosmetólogos, barbeiros, ginecologistas e pedicures, só para lembrar de alguns. E freqüentamos empórios de tato: discotecas, salões de dança, banca de engraxates ou casas de banho. E recorremos ao médico, ao fisioterapeuta, ao quiropata, ao profissional do shiatsu ou de reiki para sermos tocados, apalpados, ouvidos, inspecionados e manuseados quando sentimos que o corpo como um todo não está bem.

O simples toque amoroso que alguns chamam de terapêutico – um abraço, mãos dadas, um beijo no rosto – pode melhorar a saúde das pessoas. Está provado que ele diminui significativamente as dores pósoperatórias e a medicamentação analgésica; que reduz em 90% a dor de cabeça derivada da tensão; e que ameniza a ansiedade de pacientes hospitalizados por longo período.

Tocar é tão terapêutico quanto ser tocado: a pessoa que concede o toque é também simultaneamente beneficiada.

E já que o toque é tão essencial...

Massageie gentilmente o corpo do Cuidado com cremes hidratantes ou refrescantes. A massagem estimula a circulação, dilata os vasos sangüíneos, relaxa os músculos tensos e limpa as toxinas do corpo por meio do fluxo linfático.

Dê banhos de imersão, se possível. Coloque espuma de banho com aromas refrescantes e confortadores, como o de lavanda, por exemplo.

Lave os cabelos de Cuidado e penteie-os de forma bonita e, quem sabe, até diferente, para diversificar o dia.

Se o cuidado for mulher, maquie-a. Se for criança, tatue-a, pinte-lhe o rosto com tintas especiais!

Vende os olhos de Cuidado e faça-o adivinhar os objetos que toca. Se for adulto, alguns que lembrem momentos inesquecíveis. Se for criança, os brinquedos prediletos. E que tal trazer-lhe animais? O seu cão ou gato de estimação?

Escreva cartas com o Cuidado. Cartas para colocar no correio, com o ritual de escrever, dobrar, colocar no envelope, sobrescritar e selar, se possível. Se não, reserve a Cuidado algo que lhe possibilite sentir-se útil nesta tarefa.

Recorte jornais locais com as notícias interessantes ou pitorescas, charges, comentários diversos. Eu costumava fazer isso quando estava em Little Rock. Só o fato de estar envolvido em recortar, escrever, dobrar papel e endereçar já é um grande exercício. E um ótimo envolvimento.

Prepare presentinhos para enfermeiros, médicos residentes, faxineiros. Peça a Cuidado para ajudar a comprá-los (se isto for possível). Ou peça-lhe ajuda para embrulhar, sempre com papel muito colorido e de diferentes texturas. Delegue-lhe a tarefa de presentear.

Tenha sempre roupas com texturas agradáveis e cores alegres, para vestir Cuidado e você. E veja como a roupa é importante: meu avô, no seu leito de morte, perguntou à minha avó, tocando o tecido de seu vestido: “Por que não veste coisa melhor? Não capriche tanto na roupa dos filhos!” No seu delírio, meu avô não percebeu que ela vestia um tipo de seda ligeiramente rugosa, e muito cara.

De cheiros e lembranças

O olfato é um sentido mudo. Quando queremos descrever um cheiro, as palavras nos faltam. E o descrevemos segundo similaridades: floral, mentolado, acre, adocicado, agradável, desagradável, resinoso, amadeirado, cítrico, frutal, enjoativo, estimulante, afrodisíaco, sedutor etc.

Na verdade, o olfato não necessita de um intérprete. Um aroma pode ser extremamente nostálgico, porque desperta imagens e emoções poderosas. As sensações que podem ser evocadas pelo nariz chegam ao sistema límbico, que é a memória mais remota de cada um de nós, em menos de 15 segundos!

“Lembro-me vivamente do cheiro de pão de queijo e dos bolos que minha mãe fazia para o café da tarde com os vizinhos de apartamento; da bananada e dos waffles que eu não podia comer, do cheiro bom de lavanda, refrescante em meu corpo. E tudo isso me evoca as pessoas com quem conversávamos, ríamos e compartilhávamos os bons e os maus momentos. E isto me traz uma saudade imensa.” – Bia

Quem não guarda na memória um perfume inesquecível? Quando presenteamos alguém com perfume, estamos dando-lhe memória líquida.

O próprio Menino Jesus recebeu dentre seus primeiros presentes, incenso. E quem não se lembra do Chanel n.º 5, um clássico da sensualidade feminina, o perfume que era a roupa de dormir de Marilyn Monroe? Perfumes nos fazem evocar, de maneira sutil, vigor, força vital, todo o otimismo, a esperança e a paixão da juventude, sedução, encantamento, envolvimento, independentemente da idade das pessoas. Perfumes têm o poder de tornar sonhos, emoções e sensações tangíveis.

Os odores permanecem na lembrança e, segundo Rudyard Kippling, eles são capazes de detonar as batidas do coração, mais do que as imagens e os sons.

Quem não se lembra do cheiro de pão fresquinho, lá daquela padaria na infância? Ou das goiabeiras, das magnólias e violetas em flor? Dos lençóis e fronhas exalando leve perfume de alecrim, embalsamando os aposentos? Do pungente aroma dos biscoitos de baunilha feitos pela avó?

Para ficarmos mais intelectuais: poderíamos ler o belíssimo Em busca do tempo Perdido, se Proust não estivesse um dia, a degustar no seu chá da tarde, bolachinhas “madeleines”? Um feliz casamento entre sabor e aroma, leva Proust e nós, leitores, a passear pela memória, num verdadeiro túnel de reminiscências olfativas.

E para finalizar, alguns dados técnicos: os cheiros estão presentes desde que nascemos. O bebê conhece a mãe pelo seu cheiro. A mãe é o seu elo mais próximo, fonte de sua segurança, afeto, prazer, nutrição e higiene. Cheiramos o tempo todo, e sempre que respiramos, 23.040 vezes ao dia, consumimos 12m3 de ar. Levamos 2 segundos para inspirar e 3 segundos para expirar, um total de 5 segundos, tempo em que as moléculas do odor fluem ao longo de nossos sistemas.

Vivemos banhados de odores: os que nos envolvem, os que são emanados por nós, e os que giram ao redor de nós. O olfato está no auge das suas cinco milhões de células durante a meia-idade e enfraquece à medida em que envelhecemos. Pacientes portadores do mal de Alzheimer freqüentemente perdem o olfato juntamente com a memória. E a sensibilidade quanto aos cheiros é muito mais elevada nas mulheres do que nos homens, em qualquer grupo de idade.

Para motivar o exercício do olfato, nada melhor do que o testemunho de Hellen Keller, extraordinária escritora americana, cega desde o nascimento:

“O olfato é um mágico poderoso que nos transporta, percorrendo a distância de milhares de milhas e de todos os anos que vivemos. Os odores das frutas fazem com que eu flutue para minha casa no sul; para minhas brincadeiras infantis no campo cheio de pessegueiros. Outros aromas, repentinos e fugazes, fazem meu coração dilatar de felicidade ou contrair-se a alguma tristeza recordada. Mesmo quando penso apenas nos cheiros, minhas narinas ficam plenas de aromas, que despertam doces memórias de verões passados e campos distantes.”

Perfume-se. Perfume sempre, de modo suave, o corpo e o ambiente. Perfume-se!

Acenda velas aromáticas, espalhe infusores de perfume ou vasos com flores perfumosas.

Evoque os cheiros que lhe trazem os melhores momentos da vida.

Leve o Cuidado para sentir o cheiro da terra molhada de chuva, das flores, da grama recém-cortada.

Os exercícios seguintes, recomendamos, sejam feitos de olhos vendados ou fechados:

Faça o jogo do Quem usa este perfume?

Pegue folhas de laranjeira, de limoeiro, eucalipto, louro ou uma outra aromática e esmague-as entre os dedos. Em seguida, peça a Cuidado para identificar o aroma. Que tal tentar com uma fruta (manga, carambola, banana) ou flores (violetas, cravos, rosas, camélias) ou pimenta, gengibre e noz moscada? Ou uma bebida como vinho, cachaça ou café?

Cozinhe algo bem aromático, de preferência um prato apreciado por Cuidado. Peça-lhe a identificação. Existem no mercado gastronômico, excelentes sugestões para perfumar os pratos. Algumas delas: manjericão, orégano, salsa, alecrim, noz-moscada, pimentas (vermelhas, amarelas, verdes, brancas e pretas), manjerona, sálvia, canela, gengibre, erva-doce, cravo-da-índia, açafrão, páprica, cominho e hortelã, dentre outros.

E, por fim, presenteie-o com um cheirinho, bem ao estilo do Nordeste, que é uma aspiração nasal de carinho. E, não por acaso, lembre-se de que os esquimós se beijam esfregando os narizes...

Explore as papilas gustativas

Os humanos adultos possuem cerca de 10.000 papilas gustativas; os coelhos, 17 mil; os papagaios, só 400 e as vacas, 25.000. As papilas morrem e se renovam a cada semana ou 10 dias. A partir dos 45 anos, elas são substituídas com menos intensidade, daí nosso paladar se tornar mais embotado, e sentirmos saudades das deliciosas e incomparáveis empadinhas do tempo da infância. Com a ponta da língua, sentimos os temas doces; os amargos com a parte de trás; os azedos com as laterais e os salgados em toda a extensão, mas principalmente na parte frontal.

Prepare os pratos prediletos do Cuidado

Dieta alimentar nem sempre é sinônimo de coisa insossa e desbotada. Por mais restrita que ela seja, é sempre possível apresentá-la de modo apetecível aos olhos e ao paladar. Lembrei-me neste instante do grande mestre da cozinha catalã, Ferran Adrià, que em sua Escola de Culinária, dispõe de um refinado centro de estudos dos alimentos.

Ele destina parte de seus ganhos para pesquisas de cardápios para pessoas com restrições alimentares, em que apregoa justamente que ao paciente é necessário conservar-lhe o prazer da boa mesa. Ainda que restrita.

Seduza as papilas gustativas

Com as cores, formatos, texturas, temperaturas e aromas dos ingredientes: o vermelho dos morangos, o perfume adocicado do melão, o pungente sabor de um gengibre, o gelado de um sorbet.

Enfeite os pratos, faça-os bem coloridos. Para as crianças, faça caretinhas, lebres, flores.

Para os adultos, escreva até uma mensagem – Te amo – com vagens, cenouras, aspargos, tomates, ovos cozidos, o que sua imaginação inventar.

Há que se lembrar também de importantes contribuições de nutricionistas e especialistas em dietas alimentares para diabéticos, pessoas portadores de câncer, de ácido úrico, de intolerância ao glúten, bem como textos voltados a indicar alimentos apropriados a prevenir ou a curar processos inflamatórios.

Os sons da cura

A música nos fala tão poderosamente, que muitos músicos e teóricos acreditam que ela seja uma linguagem real, que se desenvolveu quase ao mesmo tempo que a fala. As palavras, em outro idioma, precisam ser traduzidas; já os lamentos, o choro, os gritos, a alegria, os arrulhos, os suspiros, os olés e as vaias são entendidos em qualquer lugar do mundo, dispensando qualquer tradução. A diferença está em que a palavra desperta resposta emocional somente com a compreensão de seu significado emocional, enquanto a nota musical, não precisando de sua correspondente tradução, desperta somente a resposta emocional.

A música pode acalmar os corações das pessoas mais violentas, mesmo contra a sua vontade. A música possui encantos que conseguem acalmar um selvagem e tem tanto poder terapêutico, que em algumas unidades de tratamento intensivo para cardíacos, portadores de câncer, mal de Alzheimer, depressivas ou doentes mentais, a música clássica é usada como coadjuvante no processo de recuperação.

“Meu coração, que está tão cheio a ponto de transbordar, muitas vezes, quando estava doente e cansado, foi reconfortado e revigorado pela música”, dizia Martinho Lutero (1483-1546).

A terapia da música se explica: ela nos proporciona prazer. Porque ela desempenha o papel de um “rio de recompensa” para o nosso corpo: a música nos invade o corpo, a alma, provoca arrepios de prazer, eleva-nos espiritualmente e por vezes nos conduz ao êxtase. A boa música é aquela que dá trabalho ao cérebro na dose certa e ativa o sistema de recompensa.

Comprovadamente, escutamos com nosso corpo. É muito difícil ficarmos parados quando ouvimos música: nossos pés começam a balançar, nossas mãos movem-se, pegamos uma vareta invisível e começamos a reger, ou giramos em movimento de dança. Dançam os nossos corpos, dançam as árvores, os arbustos e as flores ao sabor dos ventos, dança o Universo na sinfonia do Divino.

Reconfortados e revigorados pela música

Cada um de nós tem uma música especial – uma melodia particular do espírito, caráter e experiência. Algumas vezes, nem precisa ser música no sentido exato da palavra. Quem é que não fica alegre apenas ao ouvir a voz da pessoa amada? Ou se sinta reconfortada por palavras amorosas?

Minha amiga indiana Yaso, mulher de Saravanah, ambos de Little Rock, e cujas presenças no hospital e no apartamento foram uma benção para nós, ensinou-me uma velha tradição hindu. “Mesmo quando Bia estiver dormindo, fale baixinho, sussurre palavras de amor, carinho e conforto”. Ensinamento ratificado por Dr. Suen, que sem saber do conselho dela, pediu-me o mesmo durante uma crise pós-operatória da segunda cirurgia da Bia. Constatei pessoalmente, que as palavras amorosas têm um grande poder de acalmar e confortar.

Se puder, peça a um amigo músico ou contrate um violinista, saxofonista, violeiro ou gaiteiro para tocar as músicas prediletas de Cuidado, desde os corredores até ao quarto.

Se for criança, por que não, um bando de palhaços. Veja que milagres fazem os Doutores da Alegria, com o tema da Alegria, da Doação do Bom Humor.

Grave num Ipod, num mp3, num gravador, as músicas prediletas de Cuidado.

“Ainda no hospital, Gilson, marido de Suzana, brasileiros residentes em
Little Rock, me trouxe o que foi a minha maior curtição, durante e no
pós-operatório: um mp3 com gravações de músicas brasileiras. Ouvir
sons do Brasil ajudou-me a relaxar e, por extensão, esquecer de dores e
desconfortos.” Bia

Faça ouvir sons e ruídos conhecidos – pais cantando, netos dando risadinhas e mandando mensagens, amigos falando. Vale gravar até as falas do papagaio de estimação.

Toque música de diferentes épocas e estilos. Tente relacioná-las ao contexto em que foram criadas. Vale música sertaneja, rock, pop, mpb, heavy metal ou clássica.

Inventem, juntos, músicas que falem de algum acontecimento feliz. Crie instrumentos musicais a partir de materiais inusitados – caixas de fósforos, garrafas pets, conchas, cabaças, e encha-os com sementes ou pedras – teste suas variedades acústicas.

Fale dos sons que gosta de ouvir: o vento entre as folhas das árvores, o mar batendo contra os rochedos, cigarras cantando, violões na madrugada.

Pessoalmente, até hoje gosto de andar por estradinhas capeadas por seixos irregulares. Lembra-me o avô, carregando-me dentro de um balaio, mantido às suas costas, e as botinas dele atritando com as pedrinhas. Sons que restaram de uma infância feliz e despreocupada.

Vende os olhos de Cuidado e conduza-o por um caminho de terra, de pedrinhas e faça-o sentir sob os pés a aspereza e os sons da terra.

Vá a um jardim e faça-o tocar a rugosidade das cascas do tronco das árvores, cheirar o suave perfume das flores, fazê-lo adivinhar que vegetal tem nas mãos (esmague folhas de laranjeira, limoeiro, eucaliptos ou outra planta de cheiro característico).

Incentive Cuidado a encontrar palavras onomatopaicas, aquelas cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada. Exemplos: murmúrio, chiado, sussurro, cicio, mugir, pum, reco-reco, tique-taque, teco-teco, bem-te-vi etc.

Ou, tente fazer aliterações – repetição de fonemas no início, meio ou final de vocábulos próximos. Ex. “O rato roeu a roupa do rei de Roma”, ou ainda; “na messe, que enlourece, estremece a quermesse”.

Para lembrar a importância da palavra, trazemos o testemunho de João 1, 1:5: No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a Vida e a Vida era a luz dos homens. Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la.

A Palavra é a Sabedoria de Deus, a luz que ilumina a consciência de todo homem.

III – Compartilhar com Amor

O amor dá forças para você esperar sem desesperar, resistir e enfrentar tudo na vida sem esmorecer, e tem a magia de convencer e comover. Uma pitada de amor em nosso olhar, em nosso sorriso, em nosso trabalho tem a força de transformar o ódio em perdão; a discórdia em união; a dúvida em fé; o desespero em esperança; a tristeza em alegria; as trevas em luz. Enfim, o amor nos leva a aceitar tudo o que não pode ser mudado na vida.

O amor é a poesia dos sentidos, já apregoava o célebre escritor francês Balzac.

Amor é ternura, cuidado e atenção. Amor é dom supremo. Amar é exercer o sentimento supremo. Dentro de quatro letras, convivem o perdão, a bondade, a humildade e a paciência, a perseverança, a compreensão, a compaixão, o não julgamento. Colocar o amor em movimento é o mote deste capítulo. Você acenderá uma luz no coração de muita gente. Inclusive no seu. Assim, pratique-o em pequenas doses. Como as sugeridas abaixo.

Combine com amigos o envio de e-mails positivos e leia-os. Peça-lhes que façam ligações telefônicas.

“Passei quase 45 dias sem poder falar. E era muito bom quando minha mãe lia as mensagens vindas do Brasil via celular ou e-mail. Ou quando somente escutava as vozes de familiares e amigos pelo celular. Melhor ainda quando pude comprar e ter um bom laptop em casa (graças à assessoria de Curt, meu amigo americano, expert em tecnologia) e podia comunicar-me, especialmente através da rede “Amigos da Bia”, um site de relacionamentos criado pelo grande amigo de nossa família, Creso Moraes. Minimizou-nos a solidão e deu-nos o conforto de que estávamos sendo cuidadas, mesmo à distância.” – Bia

Organize com familiares e amigos, visitas, pequenas comemorações, o envio de cartões ou de flores.

“Suzana sugeriu que o jantar semanal que ela promovia na casa dela fosse realizado em nosso apartamento. Era bem no dia da Páscoa. Minha mãe preparou um delicioso cardápio à brasileira, sobremesa de bananada (feita por ela, que fez muito sucesso entre brasileiros e americanos). Embora eu não pudesse comer nada e nem falar, foi muito bom para quebrar a rotina e me alegrar.” – Bia

Confeccione um calendário, com marcador móvel de ímã, para assinalar a proximidade da alta.

Confeccione com Cuidado, uma Árvore da Vida: em muitas tradições, a árvore é usada como uma profunda metáfora da vida. Meditando sobre sua própria árvore, você desenvolverá um forte senso do seu eu interior. Comece traçando suas raízes – quem você é para o lar, a família, amigos e conhecidos. Agora perceba as cicatrizes do tronco: seu processo de crescimento físico, moral e espiritual. Depois, aprecie os frutos: suas conquistas. E continue nutrindo os brotos, pois eles são o seu objetivo, o seu sonho, a cura.

Desenterre álbuns de família. Folheie-os para Cuidado. Escolha uma em que Cuidado está sorrindo e pergunte-lhe o por quê.

Nestes tempos de computador, coloquei todas as fotos da família que ficou no Brasil e as tiradas em Little Rock, em um CD. Assim, ficou fácil recordar tanto os bons quanto os críticos momentos.

Ajude a escrever um diário. Incentive-o. É bom desabafar.

Ajude a compor poesias. Recite. Algo como:

Dance como se ninguém te olhasse/ Cante como se ninguém te ouvisse/ Ame como se jamais tivessem te machucado/ Viva como se o céu fosse aqui na terra.

Cante. Diverti a Bia, cantando uma música de Carlos Galhardo, dos tempos de minha infância, que talvez os mais saudosistas recordem:

Ricardo o felizardo/ Vivia sempre a cantar/ Mas um dia um amor malvado/ Quase fez/ Ricardo chorar.
Canta ou assobia/ mostra tua alegria/ Faça assim como eu/ Canta que o mundo é teu...

Ajude, incentive o Cuidado a pequenas caminhadas. Mesmo pelos corredores do hospital.

Se possível, vá ao jardim, a pequenas compras, a supermercados, feiras ou shoppings. Nesse momento, use e abuse do toque, do abraço, do sorriso. Faça-o perceber a alegre mensagem das flores, a carícia do sol ou da brisa, o riso inocente das crianças ou o apressado andar dos adultos.

Diga sempre uma palavra de incentivo: Como você está bonito, perfumado...

Ninguém faz isto melhor do que você...

Arranje coxins protetores e apoiadores de espuma para o corpo. Algumas vezes, Cuidado perdeu tanto peso, tanta massa muscular, que os ossos o ferem.

Faça origami (dobraduras em papel), pinte, modele, faça crochê, tricô ou borde.

Incentive Cuidado a cooperar em pequenas tarefas caseiras, como tirar o pó dos móveis. E elogie-o sempre. Mesmo que a tarefa resulte inacabada ou mal-feita.

Acompanhe o ritmo da natureza. Chegamos no início de março, quando tudo estava cinzento e seco. Aos poucos, pequenas explosões de verde rebentando no chão e nos troncos das árvores. E depois, flores. Milhares delas, tulipas colorindo de vermelho e rosa os jardins do Saint Vincent Hospital. Daffodils dourados ao longo do campo de golfe vizinho ao nosso apartamento. E pássaros diversos, como os robbins, que anunciam a chegada da primavera, passaram a freqüentar os jardins, com seus cantos e cores. Esquilos saltitavam de árvore em árvore, de teto em teto. Essa mudança progressiva de paisagem significou-nos, durante todo o tempo, que algo especial e bom estava preparado para nós.

Alimentávamos também os esquilos e pássaros do parque com torradinhas de pão de forma. Era uma festa para os olhos e ocupava nosso tempo, tanto o reservado para o preparo do alimento – Bia sempre preocupada se eu tinha pães suficientes para as torradinhas – quanto em nossa fruição de alegria.

Providencie caleidoscópios. São divertidíssimos. Comprei dois para a Bia.

Compre bichinhos de pelúcia. Bia foi presenteada com um coelhinho (dado por Sheila, no dia da Páscoa), um coala (dado por Tom Adam, o gerente da Guest House) e um porquinhotravesseiro, dado por Fayga. E eu, no dia da cirurgia da Bia, sentindo-me muito só no Hospital, comprei um lindo gato malhado de pelúcia, que foi meu interlocutor não somente durante as 14 horas de duração da cirurgia, mas também durante todo o tempo passado em Little Rock. No apartamento, eu era motivo de riso, pois vivia “conversando” com o gato. Todos esses bichinhos viajaram conosco de volta a Curitiba.

Fotografe. Envie as fotos pelo celular ou computador, anexando mensagens. Faz bem para quem emite e para quem as recebe.

Enfeite o ambiente. Pendure balões e bexigas, palhaços e bonecos para as crianças.

Para os adultos, pendurar a foto do time do coração, do artista predileto, do local ou do momento que mais lhe deu alegrias.

Providencie jogos de cama e banho com motivos de bichos ou flores. Bia ganhou do Children’s Hospital uma mantinha estampada de alegres sapinhos e Karin, mulher de Dr. Suen, presenteou-a com outra, pintada de joaninhas e trevos, para dar sorte.

Alugue filmes engraçados ou musicais favoritos para assistir.

Tenha sempre um vaso de flor no ambiente de Cuidado. Bia e eu cuidávamos de vasos com flores, que ao fim de nossa estada foram doados ao motorista da van da Guest House, Rodney, para que fossem plantadas no jardim de sua casa, pois ele era o fornecedor de flores para a sua igreja.

Se possível, faça Cuidado ter um pequeno jardim, com vasos ou canteiros, para que ele possa regar, podar e apreciar o crescimento dos vegetais, sejam eles flores ou temperinhos caseiros, como salsa, cebolinha e manjericão. É terapêutico lidar com a terra.

Espiritualidade e Saúde

Práticas como oração e meditação tornaram-se um alvo cada vez mais freqüente de pesquisadores da área da saúde. Em vários países eles têm investigado os efeitos da fé sobre o organismo humano. Mais da metade (56%) dos profissionais entrevistados nos Estados Unidos disse acreditar que a religião e a espiritualidade têm uma influência significativa na saúde dos pacientes. A explicação talvez esteja no fato de que indivíduos com fé possuem uma rede social mais forte, têm um sentido de vida que as ajuda a viver melhor, com mais esperança e com uma atitude mais positiva.

“Antes de partir para Little Rock, ganhei dois livros: a Oração de Jabez presenteado pelo Tiago, grande amigo dos tempos universitários e Como tomar posse da Bênção, por Floriano Galeb, do Escritório de Advocacia Augusto Prolik. Eu os li e foram para mim, conforto e revelação. Minha mãe, eu sabia, rezava todos os dias, de manhã e à noite, velas acesas. Ela também costuma meditar. Acho que grande parte de minha fortaleza provinha de sua serenidade e otimismo, tirados de sua profunda fé. E também da rede de orações formada por familiares, amigos e até de pessoas que nem conhecíamos. Devido à minha mãe pertencer a uma entidade chamada URI –United Religions Iiniciative, ligada à ONU, e que abriga nesta sigla pessoas das mais variadas religiões, crenças e fés do mundo, pude desfrutar do amparo de Deus, de Alá, de Buda, de Maomé, de Brahma, de orixás e xamãs. Cheguei à conclusão de que não importa a crença nem se ela envolve um deus: o efeito da fé sobre o organismo humano existe.” – Bia

Corroborando a Bia, o renomado médico americano Herbert Benson, de Harvard, ao longo de 30 anos de pesquisas, relata em seu livro Medicina Espiritual que crer firmemente em algo, sobretudo em uma força superior, produz um efeito altamente benéfico sobre a saúde física. Diz ele: Em minhas observações científicas, aprendi que não importa o nome atribuído ao Absoluto Infinito que cultuamos, não importa a teologia com que nos identificamos, os resultados de acreditar em Deus são os mesmos.

Rafaela Calixto e sua mãe Izamar são unânimes também em afirmar que a fé inabalável em Deus continua sendo a grande sustentação, durante esses 25 anos, para vivenciar com menos estresse a mais de 270 ocasiões em que tiveram de se expor a intervenções cirúrgicas.

A bióloga Elisa Harumi Kozasa, do Departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), desenvolve estudos sobre como a meditação pode auxiliar no tratamento de ansiedade, e integra o Mind and Life Research Institute (Instituto de Pesquisas da Mente e da Vida), um encontro internacional que reúne neurocientistas, físicos quânticos e budistas, e conta inclusive com o Dalai Lama desde 1987.

Assegura Elisa que a meditação já vem sendo usada no mundo ocidental, com êxito, para tratar a ansiedade, a hipertensão e doenças cardiovasculares. E, se aplicada a níveis mais profundos, poderá ser o caminho que, além de melhorar a saúde física das pessoas, oferecerá um alimento para o espírito, para aprendermos mais sobre nós mesmos, independentemente da presença da religiosidade.

Uma pesquisa brasileira, coordenada por Carlos Eduardo Tosta, pesquisador do Laboratório de Imunologia da Universidade de Brasília, evidenciou a ação de orações feitas por religiosos sobre as células humanas. A pesquisa foi realizada com 52 voluntários, estudantes de medicina da universidade e o resultado revelou que um dos principais mecanismos de defesa do organismo – a fagocitose – pode ser estabilizada por meio de preces. A cada semana, uma dupla fornecia amostras de sangue e respondia a um questionário sobre estresse. Um desses voluntários tinha sua foto encaminhada a dez religiosos de diferentes credos, que semanalmente faziam preces para aquela pessoa. A metodologia adotada impedia que Tosta e os estudantes soubessem quem recebia as orações para evitar a auto-sugestão.

A análise dos exames de sangue feita após a semana de preces revelou que os resultados daqueles que haviam sido objeto das orações dos religiosos apresentaram maior estabilidade dos fagócitos em comparação com os seus exames anteriores. O experimento foi feito posteriormente com o grupo de alunos que não havia recebido as preces num primeiro momento e o fenômeno foi novamente observado.

Igualmente o cardiologista Randolph Byrd observou 393 pacientes da Unidade de Atendimento Cardíaco do Hospital Geral de San Francisco, sob o efeito da oração a distância, feita por vários grupos de oração domiciliar.

Os 393 sujeitos foram divididos num grupo de 192 pacientes que receberam orações feitas por quatro a sete pessoas diferentes e um grupo de controle de 201 pessoas que não receberam o benefício da oração. Médico e pacientes não sabiam a qual grupo pertenciam. Byrd concluiu que o efeito da oração, mesmo a distância, foi notavelmente positivo. Por exemplo, os pacientes que receberam orações precisaram ingerir cinco vezes menos antibióticos e demonstraram propensão três vezes menor de acumular líquido nos pulmões, o que estatisticamente é muito significativo.

A essas comprovações, junte-se o estudo do psiquiatra Alexander Moreira, coordenador do NUPES – Núcleo de Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele enumera uma série de benefícios que podem estar associados à espiritualidade: menor freqüência de sintomas de depressão, melhores índices de otimismo, boa autoestima, menos comportamentos de risco, menos uso de drogas, álcool e cigarro, maior expectativa de vida e mais bem-estar, melhor funcionamento do sistema imunológico, maior facilidade para enfrentar e lidar com problemas e menos estresse.

Concluindo: rezar alimenta e cura os corpos, independentemente de denominação religiosa ou teologia. Podemos acreditar em Deus de uma maneira silenciosa, introspectiva ou em voz alta, e de qualquer forma, iremos colher recompensas de cura.

Agora, falemos com Deus

Fazer orações, na verdade, é estabelecer um diálogo com Deus.
Conversar com Deus é agradecer pelas benesses concedidas no dia que passou e pedir que nos carregue nos Seus braços amanhã.

A oração de Jabez, que fazíamos todos os dias, sempre que necessário, na verdade é um pequeno texto inserido em 1Crônicas 4:9,10. Escondido no meio da descrição da árvore genealógica da família de Israel, encontra-se a história de um homem, que tinha tudo para não dar certo na vida. “Foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; sua mãe chamou-lhe Jabez, dizendo: porque com muitas dores o dei à luz. Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo:
Oh, Deus/ que me abençoes/
que me amplies as fronteiras/
que seja comigo a tua mão/
e que me preserves de todo o mal/
para que não me sobrevenha aflição.
E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido”.

O ser humano, porque procede de Deus, pode e deve cultivar o espaço do Divino, abrir-se ao diálogo com Deus, confiar a Ele o destino de sua vida e encontrar n’Ele o sentido da morte.

Vá a missas e cultos, se possível, com outra pessoa.
Em Little Rock, o casal Tom e Judy Adam, o reverendo Del Farris, e particularmente o pastor Sidney Carswell (que falava português, pois morou em Itacoatiara, no Amazonas, durante 16 anos) foram meus amparos espirituais. E Jean Sutowski, minha vizinha de apartamento, era a companhia freqüente para ir às missas de domingo, na Igreja das Santas Almas.

Faça meditação a sós ou com outros.
O curso de meditação que fiz na Brahma Kumaris, há muitos anos, foi uma de minhas fortalezas. Como Cuidadora, posso afirmar que este canal de conversação com Deus, extremamente intimista, é um carregador/difusor de energias sem igual, que alimenta a brasa interior da contemplação e da oração, para que nunca se apague a chama da fé, do amor e da misericórdia.

Segundo Leonardo Boff, cuidar do espírito significa cuidar dos valores que dão sentido à nossa vida e das significações que geram esperança para além da morte. Cuidar do espírito implica colocar os compromissos éticos acima dos interesses pessoais ou coletivos. Significa especialmente cuidar da espiritualidade vivenciando Deus em tudo e permitindo seu permanente nascer e renascer no coração. Assim, com serenidade e jovialidade, nos encontraremos preparados para a derradeira travessia e para o grande encontro.

Depoimento final

Estudamos várias maneiras de apresentar as conclusões, e nenhuma delas foi tão efetiva quanto o velho haikai, de Matsuo Bashô, nascido em 1644, em Ueno, Japão.

Velho tanque
Uma rã salta
Barulho de água

Bashô é um dos mais celebrados poetas haijin, isto é, poeta de “haikai”, poema composto de apenas três linhas, com 5, 7 e 5 sílabas respectivamente em cada linha.

Além de poeta, ele é considerado filósofo e um espiritualista, iniciado que fora na prática do “zazen” (postura de lótus) pelo monge zen Bucchô, ele próprio, ermitão e poeta. A poesia de Bashô, até hoje, ecoa de maneira poderosa o pensamento zen. Quando Bashô escreveu este poema, contava 45 anos, e estava no meio de uma viagem, a pé, (apenas nobres e samurais podiam se locomover em cavalos), rumo a Oku, uma região até hoje considerada inóspita e misteriosa. Certos autores guardam a firme convicção de que o poeta percorria estes caminhos (fez três itinerários diferentes em sua vida), tomado por poderes mágicos e uma força espiritual muito intensa que o possuía por completo. Os poemas resultantes dessa viagem, que durou dois anos e meio, estão no seu Diário de Viagem: Trilha Estreita ao Confim, em japonês, Oku no Hosomichi.

Deveria ser um quente dia de verão: uma rã ansiosa por aliviar o calor de sua pele, e ele, meditando, diante de um lago. Subitamente, Bashô é interrompido pelo barulho do salto da rã na água. E ele, imediatamente compõe um dos mais traduzidos poemas do mundo.

Comparo a quietude do lugar, a imobilidade das águas e o forçado “voltar à realidade” do poeta às pessoas como nós, que, perante o surgimento de um fato novo em suas vidas, precisam de repente, ler o mundo com outros olhos. Como muitos, a gente se vê como um velho tanque, com suas águas paradas, calmas, de superfície absolutamente lisa e perfeita. Até que, repentinamente uma rã salta e interrompe essa aparente quietude. Barulho, fragor, espirros cristalinos de água.

Mas o salto n’água não se reduz ao barulho somente. A superfície do velho tanque se enche de círculos concêntricos, de diâmetros cada vez mais espaçados, ondulando a superfície. É necessário extrair, não se sabe de onde, como e quanto, outros gestos, outros procederes, outro pensar, outro sentir, para fazer frente ao inesperado. É em tais momentos que todos os seus sentidos e sentimentos são requeridos, para apanhar o melhor do que lhe é oferecido.

“Pronto: o velho tanque jamais será o mesmo. Alterou minha vida, a vida de minha mãe e quem sabe, a sua. A superfície ondulada me revela que a Vida é um inusitado de valores e desafios que a todo o momento exigem de nós sabedoria e coragem. No meu caso, acrescento a caridade, possível de acontecer, porque pessoas amorosas como você, fizeram e fazem acontecer para tornar a vida melhor.” – Bia

O poema de Bashô data de 1.689. Nosso manual, 318 anos depois. Pode-se dizer que ambos são o salto da rã na água. Ambos dizem da maravilhosa força divina que apresenta ao homem e ao mundo a oportunidade de se transformarem a cada dia de sua existência. Ao nos despedirmos, Bia e eu queremos lhe dizer, Cuidador Amoroso, que as águas do tanque voltaram à sua quietude inicial. Mas nunca serão as mesmas, porque houve uma vez uma rã, que ploc! rompeu o silêncio e o silêncio agora ondula...

Igualmente ondula a mensagem auspiciosa do I Ching:

“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano.”

Bibliografia

Partilhamos com você artigos, livros consultados, alguns textos inspiradores e pequenas vivências.

Sobre religiosidade, fé e saúde.

BENSON, Herbert; STARK, Marg. Medicina espiritual: o poder essencial da cura. Rio de Janeiro: Campos. 1998. 335 pp.
Folha de São Paulo – Equilíbrio – De corpo e alma – 3 de maio de 2007. p. 4
O’ DONNELL, Ken. A paz começa com você. São Paulo: Brahma Kumaris.
OSHO. Uma farmácia para a alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. 149 pp.
WILKINSON, Darlene. A oração de Jabez para mulheres. São Paulo: Mundo Cristão. 2003. 118 pp.

Sobre humor
HUNTER, Charles; HUNTER, Francis. Healing through humour. USA: Creation House Press, Creation House Press. 2003, EUA
K. Takahashi, M. Iwase, et alii. “The elevation of natural killer cell activity induced by laughter in a crossover study”, International Journal of Molecular Medicine, December 2001, 8(6);645-650.
L.S.BERK, D.L.FELTEN et ali, “Modulation of neuroimmune parameters during the eustress of humour-associated mirthful laugher” – Alternative Therapies in Health and Medicine, March 2001, 7(2);62-67, 74-76.

Sobre Cuidado
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes. 1999. 199 pp.
BUZZI, Arcângelo R. Filosofia para principiantes. Petrópolis,RJ: Vozes, 2003. 14 ed. 150 pp.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix. 10 ed. 1995.445 pp. Cap. 10, 11 e 12.
DUNGPA, Rimpoche. Princípios de Vida. Rio de Janeiro: Nova Era, 2004. 153pp.
GRÜN, Anselm. Despertar o Cuidado. Petrópolis, RJ: Vozes. 2005. 92p.

Textos inspiradores
ACKERMAN, Diane. Uma história natural dos sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil. 1992. 366 pp.
ALVES, Laurinda. Alegria de viver: Crônicas do cotidiano que celebram a atitude positiva diante da vida. São Paulo: Editora Gente. 2005. 161 pp.
BERG, Jacqueline. Touched by God: women´s stories of spiritual transformation. London,UK: BK Publication. 2006. 112 pp.
BOA SEMENTE, Devocional 2007. Depósito de Literatura Cristão. 2007.
GEORGE, Mike. Meditações: 1001 idéias para encontrar a paz e a serenidade. São Paulo: Publifolha. 2005. 383 pp.
MC WILLIAMS, Peter. Quem acredita sempre alcança. Rio de Janeiro: Sextante. 2006. 112 pp.
O’ DONNELL, Ken. A alma no negócio: manual para uma gestão positiva. São Paulo: Brahma Kumaris. 2002. 147 pp.
R.R.Soares. Como tomar posse da bênção. Rio de Janeiro. 2004. 103 pp.
RAMSAY, Bárbara. As sete chaves da iluminação. São Paulo: Confluência. 2003. 56 pp.
SOLAR , Suryavan. Manual para triunfadores. São Paulo: Gran Sol Editora. 2005. 263 pp.

Sobre Matsuo Bashô
TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto (tradutores). Matsuo Bashô: trilha estreita ao confim. São Paulo: Iluminuras. 1997. 95 pp.
VERÇOSA, Carlos. Oku: viajando com Bashô. Salvador: Secretaria de Estado da Cultura e Turismo do Governo do Estado da Bahia. 1996. 570 pp.

Apêndice I

Para saber um pouco mais

1. Algumas frases inspiradoras encontradas na Bíblia

Todas as citações bíblicas que seguem foram retiradas da Bíblia Sagrada, edição pastoral, das Edições Paulinas, porque traduzem o pensamento em linguagem simples, evitando construções rebuscadas e palavras de uso menos comum.

Alegria é vida
Não se deixe dominar pela tristeza, nem se aflija com preocupações. Alegria do coração é vida para o homem e a satisfação lhe prolonga a vida. Anime-se, console o coração e afaste a melancolia para longe. Pois a melancolia já arruinou muita gente. Inveja e ira encurtam os anos, e a preocupação faz envelhecer antes do tempo. Coração alegre favorece o bom apetite e faz sentir o gosto da comida. (Eclesiástico, 30, 21:25)

Todas as coisas são boas
Cresçam como roseira plantada à beira d´água corrente. Espalhem bom perfume como incenso e floresçam como lírio. Espalhem perfume e entoem um cântico ao som de cítaras. (Eclesiástico 39, 12:15)

Deus deseja que você seja
...como a árvore plantada junto d´água corrente e fresca: que dá fruto no tempo devido, e suas folhas nunca murcham. Tudo o que fizer, será bem sucedido. (Salmos 1, 3)

A proteção que vem de Deus
Quem me protege é Deus, que salva os corações retos. (Salmos 7, 11)

Confiança em Deus
...pois ele ordenou a seus anjos que o guardem em seus caminhos. Eles o levarão nas mãos, para que seus pés não tropecem em pedras. Você caminhará sobre cobras e víboras, e pisará leões e dragões. Eu o livrarei, porque a mim se apegou. Eu o protegerei, pois conhece o meu nome. Ele me invocará e eu responderei. Na angústia estarei com ele. Eu o livrarei e glorificarei. Vou saciá-lo de longos dias e lhe farei ver a minha salvação. (Salmos 90, 11:16)


2. Frases inspiradoras de outros autores

“O segredo para melhorar a memória é se concentrar nas lembranças positivas e exaltá-las permanentemente”. (Suryavan Solar)

Mude o paradigma de suas perguntas. Em vez de perguntar a seus familiares (amigos e colaboradores) o clássico: Como foi teu dia hoje? Experimente perguntar: “Qual foi o teu melhor momento, hoje?”. Você irá perceber melhoras sensacionais nos relacionamentos”. (Ronald Fry, consultor do Appreciative Inquiry).

“Olhe cada pessoa que encontres como se ela estivesse te trazendo um grande segredo”. (Dugpa Rimpoche)

“O amor é uma grande força de cura.” (Dugpa Rimpoche)

“A dignidade não é uma estação de chegada. Ela é uma maneira de viajar”. (Conclusão de um dos grupos de estudos do BAWB de Fortaleza, Brasil, em 2006)

“Oh, Senhor, eu não peço tarefas à altura de minhas forças: peço forças à altura de minhas tarefas.” (Phillips Brooks – 1835-1893).

“Dá Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesmo, e ao fazê-lo, usa as tuas mãos” (Madre Teresa de Calcutá)

“O corpo deve se proteger da máquina. Esta o ronda perigosamente. Lá onde o corpo é corpo, memoriza no que faz, sua corporeidade. E assim, antigamente como hoje, ainda é o corpo e não a máquina que enche de alegria o coração da gente”. (Arcângelo Buzzi)

“Alguns dizem que o que há de mais belo na terra é um esquadrão da cavalaria; outros, um exército de guerreiros apeados; outros ainda, uma esquadra de navios; mas o mais belo é ser amado por quem o coração suspira”. (Safo)

“Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver.” (Montaigne)

“Seja você a mudança que deseja ver no mundo”. (Mahatma Ghandi)

“Mas se Deus é as flores e as árvores/ E os montes e o sol e o luar/ Então acredito nele./ Então acredito nele a toda hora./ E a minha vida é toda uma oração e uma missa/E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos” (Fernando Pessoa, in Poemas de Alberto Caeiro)

“Deus...é um Deus de amor e de consolação, é um Deus que enche a alma e o coração daqueles que Ele possui; e lhes faz sentir interiormente a misericórdia infinita”. (Blaise Pascal, in Pensées).”

“Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. (Madre Teresa de Calcutá)

“Parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos. E o Cuidado me conduziu entre eles. E o que antes me parecia amargo se converteu em doçura da alma e do corpo.” (Francisco de Assis, in Testamento)

“É o Cuidado que vincula as ocupações e preocupações às coisas e às pessoas. O estar junto é sempre obra do Cuidado que se compadece do humano, seja ele meu, teu ou seu”. (Arcângelo Buzzi)

“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram. Mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem: momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas insuperáveis, como você, que hoje está sentado ao nosso lado. (Adaptado por nós, de um poema, atribuído a Fernando Pessoa)

Apêndice II

Sobre Daffodils

Transcrevo o lindo poema de William Woodsworth, inglês, que com rara sensibilidade registrou a gloriosa florescência dos narcisos dourados. Segue também uma tradução livre, de minha autoria. Explico-lhes porque o faço: nos meus dezessete anos, fui incumbida de destrinchar o texto, para uma prova de inglês, cuja professora era super-exigente. Tirei a nota máxima. Isto representou 99% de suor e 1% de inspiração. E pelo esforço dedicado, sempre desejei ver um daffodil. Quarenta e cinco anos depois, essa oportunidade me foi dada, por ocasião da cirurgia de minha filha, em 2007, na cidade de Little Rock, Estados Unidos. Floresciam em todo o seu esplendor justificando a inspiração que Woodsworth teve, em 1804, andando à beira do lago Ullswater, com sua irmã Dorothy, em um dia tempestuoso.

I wandered lonely as a Cloud

I wandered lonely as a Cloud
That floats on high o´er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host of golden daffodils;
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.

Continuous as the stars that shine
And twinkle on the milky way,
They stretched in never-ending line,
Along the margin of the bay:
Ten thousand I saw at a glance
Tossing their heads in sprightly dance.

The waves beside them danced, but they
Out-did the splarkling waves in glee:
A poet could not but be gay
In such a jocund company.
I gazed and gazed – but litlle thought
What wealth the show to me had brought.

For oft when on my couch I lie,
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude,
And then my heart with pleasure fills
And dances with the daffodils.


EU FLANAVA COMO UMA NUVEM

Eu flanava como uma nuvem
Vagabundeando sobre vales e colinas
Quando de repente, vi: uma multidão?
Não! Um exército de dourados daffodils
Margeando o lago, bem abaixo das árvores,
Ondulando e dançando ao ritmo da brisa.

Alinhados a perder de vista
Brilhavam e piscavam como estrelas na Via Láctea.
Vi milhares deles, cabeças livres e soltas,
gingando em frenético compasso.

E nesse ondular de exuberante alegria,
Superavam as brilhantes ondas do lago ao redor.
Difícil um poeta não se deixar seduzir
Por tanta explosão de cores e júbilo:
Que riqueza para minha inspiração.

Sempre que me abandono no leito,
Distraído ou pensativo,
Eles surgem do nada e como flashes,
Espoucam no meu íntimo,
E me presenteiam com o supremo recolhimento.
E aí minha alma se farta de prazer
E dança com os daffodils.