quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Depoimento final

Estudamos várias maneiras de apresentar as conclusões, e nenhuma delas foi tão efetiva quanto o velho haikai, de Matsuo Bashô, nascido em 1644, em Ueno, Japão.

Velho tanque
Uma rã salta
Barulho de água

Bashô é um dos mais celebrados poetas haijin, isto é, poeta de “haikai”, poema composto de apenas três linhas, com 5, 7 e 5 sílabas respectivamente em cada linha.

Além de poeta, ele é considerado filósofo e um espiritualista, iniciado que fora na prática do “zazen” (postura de lótus) pelo monge zen Bucchô, ele próprio, ermitão e poeta. A poesia de Bashô, até hoje, ecoa de maneira poderosa o pensamento zen. Quando Bashô escreveu este poema, contava 45 anos, e estava no meio de uma viagem, a pé, (apenas nobres e samurais podiam se locomover em cavalos), rumo a Oku, uma região até hoje considerada inóspita e misteriosa. Certos autores guardam a firme convicção de que o poeta percorria estes caminhos (fez três itinerários diferentes em sua vida), tomado por poderes mágicos e uma força espiritual muito intensa que o possuía por completo. Os poemas resultantes dessa viagem, que durou dois anos e meio, estão no seu Diário de Viagem: Trilha Estreita ao Confim, em japonês, Oku no Hosomichi.

Deveria ser um quente dia de verão: uma rã ansiosa por aliviar o calor de sua pele, e ele, meditando, diante de um lago. Subitamente, Bashô é interrompido pelo barulho do salto da rã na água. E ele, imediatamente compõe um dos mais traduzidos poemas do mundo.

Comparo a quietude do lugar, a imobilidade das águas e o forçado “voltar à realidade” do poeta às pessoas como nós, que, perante o surgimento de um fato novo em suas vidas, precisam de repente, ler o mundo com outros olhos. Como muitos, a gente se vê como um velho tanque, com suas águas paradas, calmas, de superfície absolutamente lisa e perfeita. Até que, repentinamente uma rã salta e interrompe essa aparente quietude. Barulho, fragor, espirros cristalinos de água.

Mas o salto n’água não se reduz ao barulho somente. A superfície do velho tanque se enche de círculos concêntricos, de diâmetros cada vez mais espaçados, ondulando a superfície. É necessário extrair, não se sabe de onde, como e quanto, outros gestos, outros procederes, outro pensar, outro sentir, para fazer frente ao inesperado. É em tais momentos que todos os seus sentidos e sentimentos são requeridos, para apanhar o melhor do que lhe é oferecido.

“Pronto: o velho tanque jamais será o mesmo. Alterou minha vida, a vida de minha mãe e quem sabe, a sua. A superfície ondulada me revela que a Vida é um inusitado de valores e desafios que a todo o momento exigem de nós sabedoria e coragem. No meu caso, acrescento a caridade, possível de acontecer, porque pessoas amorosas como você, fizeram e fazem acontecer para tornar a vida melhor.” – Bia

O poema de Bashô data de 1.689. Nosso manual, 318 anos depois. Pode-se dizer que ambos são o salto da rã na água. Ambos dizem da maravilhosa força divina que apresenta ao homem e ao mundo a oportunidade de se transformarem a cada dia de sua existência. Ao nos despedirmos, Bia e eu queremos lhe dizer, Cuidador Amoroso, que as águas do tanque voltaram à sua quietude inicial. Mas nunca serão as mesmas, porque houve uma vez uma rã, que ploc! rompeu o silêncio e o silêncio agora ondula...

Igualmente ondula a mensagem auspiciosa do I Ching:

“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano.”

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